segunda-feira, 30 de julho de 2012

Meu Norte

"O Norte é mais Português que Portugal. As minhotas são as raparigas mais bonitas do País. O Minho é a nossa província mais estragada e continua a ser a mais bela. As festas da Nossa Senhora da Agonia são as maiores e mais impressionantes que já se viram. 

Viana do Castelo é uma cidade clara. Não esconde nada. Não há uma Viana secreta. Não há outra Viana do lado de lá. Em Viana do Castelo está tudo à vista. A luz mostra tudo o que há para ver. É uma cidade verde-branca. Verde-rio e verde-mar, mas branca. Em Agosto até o verde mais escuro, que se vê nas árvores antigas do Monte de Santa Luzia, parece tornar-se branco ao olhar. Até o granito das casas. 

Mais verdades. 
No Norte a comida é melhor. 
O vinho é melhor. 
O serviço é melhor. 
Os preços são mais baixos. 
Não é difícil entrar ao calhas numa taberna, comer muito bem e pagar uma ninharia 
Estas são as verdades do Norte de Portugal 

Mas há uma verdade maior. 
É que só o Norte existe. O Sul não existe. 
As partes mais bonitas de Portugal, o Alentejo, os Açores, a Madeira, Lisboa, et cetera, existem sozinhas. O Sul é solto. Não se junta. 

Não se diz que se é do Sul como se diz que se é do Norte. 
No Norte dizem-se e orgulham-se de se dizer nortenhos. Quem é que se identifica como sulista? 
No Norte, as pessoas falam mais no Norte do que todos os portugueses juntos falam de Portugal inteiro. 
Os nortenhos não falam do Norte como se o Norte fosse um segundo país

Não haja enganos. 
Não falam do Norte para separá-lo de Portugal. 
Falam do Norte apenas para separá-lo do resto de Portugal. 

Para um nortenho, há o Norte e há o Resto. É a soma de um e de outro que constitui Portugal. 
Mas o Norte é onde Portugal começa. 
Depois do Norte, Portugal limita-se a continuar, a correr por ali abaixo. 

Deus nos livre, mas se se perdesse o resto do país e só ficasse o Norte, Portugal continuaria a existir. Como país inteiro. Pátria mesmo, por muito pequenina. No Norte. 

Em contrapartida, sem o Norte, Portugal seria uma mera região da Europa. 
Mais ou menos peninsular, ou insular. 

É esta a verdade. 

Lisboa é bonita e estranha mas é apenas uma cidade. O Alentejo é especial mas ibérico, a Madeira é encantadora mas inglesa e os Açores são um caso à parte. Em qualquer caso, os lisboetas não falam nem no Centro nem no Sul - falam em Lisboa. Os alentejanos nem sequer falam do Algarve - falam do Alentejo. As ilhas falam em si mesmas e naquela entidade incompreensível a que chamam, qual hipermercado de mil misturadas, Continente. 

No Norte, Portugal tira de si a sua ideia e ganha corpo. Está muito estragado, mas é um estragado português, semi-arrependido, como quem não quer a coisa. 

O Norte cheira a dinheiro e a alecrim. 

O asseio não é asséptico - cheira a cunhas, a conhecimentos e a arranjinho. Tem esse defeito e essa verdade. 

Em contrapartida, a conservação fantástica de (algum) Alentejo é impecável, porque os alentejanos são mais frios e conservadores (menos portugueses) nessas coisas. 

O Norte é feminino. 

O Minho é uma menina. Tem a doçura agreste, a timidez insolente da mulher portuguesa. Como um brinco doirado que luz numa orelha pequenina, o Norte dá nas vistas sem se dar por isso. 

As raparigas do Norte têm belezas perigosas, olhos verdes-impossíveis, daqueles em que os versos, desde o dia em que nascem, se põem a escrever-se sozinhos. 
Têm o ar de quem pertence a si própria. Andam de mãos nas ancas. Olham de frente. Pensam em tudo e dizem tudo o que pensam. Confiam, mas não dão confiança. Olho para as raparigas do meu país e acho-as bonitas e honradas, graciosas sem estarem para brincadeiras, bonitas sem serem belas, erguidas pelo nariz, seguras pelo queixo, aprumadas, mas sem vaidade. Acho-as verdadeiras. Acredito nelas. Gosto da vergonha delas, da maneira como coram quando se lhes fala e da maneira como podem puxar de um estalo ou de uma panela, quando se lhes falta ao respeito. Gosto das pequeninas, com o cabelo puxado atrás das orelhas, e das velhas, de carrapito perfeito, que têm os olhos endurecidos de quem passou a vida a cuidar dos outros. Gosto dos brincos, dos sapatos, das saias. Gosto das burguesas, vestidas à maneira, de braço enlaçado nos homens. Fazem-me todas medo, na maneira calada como conduzem as cerimónias e os maridos, mas gosto delas. 

São mulheres que possuem; são mulheres que pertencem. As mulheres do Norte deveriam mandar neste país. Têm o ar de que sabem o que estão a fazer. Em Viana, durante as festas, são as senhoras em toda a parte. Numa procissão, numa barraca de feira, numa taberna, são elas que decidem silenciosamente. 

Trabalham três vezes mais que os homens e não lhes dão importância especial. 

Só descomposturas, e mimos, e carinhos. 

O Norte é a nossa verdade. 

Ao princípio irritava-me que todos os nortenhos tivessem tanto orgulho no Norte, porque me parecia que o orgulho era aleatório. Gostavam do Norte só porque eram do Norte. Assim também eu. Ansiava por encontrar um nortenho que preferisse Coimbra ou o Algarve, da maneira que eu, lisboeta, prefiro o Norte. Afinal, Portugal é um caso muito sério e compete a cada português escolher, de cabeça fria e coração quente, os seus pedaços e pormenores. 
Depois percebi. 

Os nortenhos, antes de nascer, já escolheram. Já nascem escolhidos. Não escolhem a terra onde nascem, seja Ponte de Lima ou Amarante, e apesar de as defenderem acerrimamente, põem acima dessas terras a terra maior que é o "O Norte". 

Defendem o "Norte" em Portugal como os Portugueses haviam de defender Portugal no mundo. Este sacrifício colectivo, em que cada um adia a sua pertença particular - o nome da sua terrinha - para poder pertencer a uma terra maior, é comovente. 

No Porto, dizem que as pessoas de Viana são melhores do que as do Porto. Em Viana, dizem que as festas de Viana não são tão autênticas como as de Ponte de Lima. Em Ponte de Lima dizem que a vila de Amarante ainda é mais bonita. 
O Norte não tem nome próprio. Se o tem não o diz. Quem sabe se é mais Minho ou Trás-os- Montes, se é litoral ou interior, português ou galego? Parece vago. Mas não é. Basta olhar para aquelas caras e para aquelas casas, para as árvores, para os muros, ouvir aquelas vozes, sentir aquelas mãos em cima de nós, com a terra a tremer de tanto tambor e o céu em fogo, para adivinhar. 

O nome do Norte é Portugal. Portugal, como nome de terra, como nome de nós todos, é um nome do Norte. Não é só o nome do Porto. É a maneira que têm e dizer "Portugal" e "Portugueses". No Norte dizem-no a toda a hora, com a maior das naturalidades. Sem complexos e sem patrioteirismos. Como se fosse só um nome. Como "Norte". Como se fosse assim que chamassem uns pelos outros. Porque é que não é assim que nos chamamos todos?"



MiguelEstevesCardoso


Porque ser do Norte não se explica. Sente-se. 
Eu sou!

quinta-feira, 26 de julho de 2012

"...Noites de Verão onde o sabor a sol e o toque da brisa quente apodera corpos e mentes equilibradas levando-os a querer sentir e a delirar por ter.
-Querer e não ter é frustração! (Ecoa a mente em tentativa de controlo).
-Mas querer e não dizer é egoísmo por nós mesmos. É martirizar-mo-nos voluntariamente! (Grita o teco em explosão)
Momentos de solitária negação seguiram-se, como que uma balança de pesos em que o fiel entre o querer combate atrofiantemente com o não ter.
Em vão. Venceu o óbvio e querer foi como que ter, como que sentir, como que tocar, como que presenciar.
Faltou algo (falta sempre algo neste querer e não ter ). Mas o resto, o resto esteve lá e esse imagem a imagem, som a som, letra a letra, valeu bem a pena! ..."


terça-feira, 24 de julho de 2012


Um fim de tarde fantástico, onde o vento do Cabedelo anunciava uma grande noite de festival. 
No Moche havia de tocar "João Só e os Abandonados" que nos prometiam levar "A Marte" em buscar da "Sorte Grande", antes de um "Chico" que a bela Luísa Sobral nos havia de apresentar (TOP este concerto!).

No "corredor" e enquanto a noite ainda não caia no recinto, gerava-se vida, desafio atrás de brinde, e brinde atrás de desafio.
"Ora diga-me o seu nome, coloque a sua criatividade no máximo e leve uma t-shirtzinha nova para casa" ("Don't worry, be happy". Criatividade máxima a minha..eheheheh). 
"Olha vai uma raspadinha e a "cautela" da popular que anda à roda na quinta-feira, e tem um belo de um chapéu festivaleiro..."
"Ora aqui temos o JN e ainda mais um DVD..."
"Ora aqui dança-se ao som do ICE TEA..."
 "Entre na carrinha com o maior número de amigos e ganhe o belo do bilhete para a Azurara Beach Party..."
E o belo do lencinho da TMN para fazer juz ao festival à beira-rio, nem vê-lo. "Esgotou-se", constou-me...

Pré-palco principal ainda de atentar no frenezim de festivaleiros; na zona VIP que não visitei mas espreitei; nas conversas improváveis escutadas aqui e ali; na limpeza do WC do mulherio (para um festival estavam em muiiiito boas condições); na bela da pizza ao jantar; da fila imensa para um café e da elevadíssima afluência ao stand da Comercial para um "recuerdo" com os cromos das manhãs!

No palco principal ouvi solitariamente um pouquinho de Mónica Ferraz; bebi um Morangão (dizem que é morango com o famoso "O que é que se bebe aqui?") ao som de "The Hives" que conhecendo apenas uma música, fizeram um concerto em grande; dancei no pó ao som de Anastacia com novas companhias animadas e bem-dispostas (Não foi um concerto em grande. faltou-lhe cenário. Mas a voz característica esteve lá no som dos seus eternos hits) e bombei com Pedro Abrunhosa com companhia e toque sublime, num momento do verbo "desfrutar"!

Do rescaldo fica a animação, as boas companhias, o bom ambiente, os looks descontraídos, os brindes, a vivência e o pó, muito pó que lá levantava nos passos de dança mais violentos!

Foi, "Marés Vivas. No Cabedelo. Desde o século XIX que existe um Barco Rabelo!"
Marés Vivas 2013, ate jáaaaa!








sexta-feira, 20 de julho de 2012

"... Num diálogo intenso, corriqueiro e banal, onde as palavras voavam como o vento de uma manhã, há uma que foi mais forte e  feriu.
Num contexto de gestos e formas encarados errados, mal interpretados, não assimilados, há também atitudes de audácia  mal compreendidas, insegurança que grita!
O discurso volta às palavras. Estas acalmam num tom fácil e meigo de uma voz forte. E no segundo seguinte ecoam insegurança, medo de perda.
E num tempo diminuto embalam numa dor e num sentimento de gostar que magoa!"



quinta-feira, 19 de julho de 2012

Quando a verdade e a força dos sentimentos transborda, é assim! 

terça-feira, 17 de julho de 2012

Uma vida que se vive ao minuto. Com os obstáculos que ela tem e coloca no caminho para escalar. Deparar-nos com eles. Acreditar.
Outras vezes esmorecer. Lutar com ânsia de passar.
Perder. Deixar de ter aquilo que te custou a conquistar.
O que te ajudava a lutar. 
O que nem consegues ter.

sábado, 14 de julho de 2012

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Estranho auto-retrato!

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...

Álvaro de Campos

sexta-feira, 6 de julho de 2012

"(...) a exibir esse teu sorriso, que sempre te caracterizou, perante a vida, (...)"
[Há uns tempos, num email.]

quinta-feira, 5 de julho de 2012


Hoje foi um destes, morango e iogurte, para adoçar o estudo!
Nham Nham