sábado, 29 de março de 2014

"Queria acordar com a tua voz a dizer-me ao ouvido tudo aquilo por que tenho esperado. Queria ouvir-te dizer-me a falta que te faço. Que também tu te encontras exactamente no mesmo ponto que eu: sozinho. Queria ouvir-te dizer o quanto me amas e precisas. O quanto, afinal, a ti não te bastas. A falta que te fazem as nossas conversas. Aquilo que precisas do meu abraço e colo. Aquilo que eu ainda te irrito e incomodo. Aquilo que te tiro do sério só porque existo. Que o nosso amor não é de hoje. Nem de ontem. Que é uma coisa que se instalou e não mais se ausentou.
Queria acordar e não ser um sonho. Acordar com a tua voz ao ouvido em vez de na minha consciência.
Acordar e ouvir-te. Aqui."

quarta-feira, 26 de março de 2014

Solidão solitária!

Só. 
Duas letras de um muito de emoções, sentimentos, pensamentos e vagas acções.
Uma pala simples e fraca.
Estar só é , muitas vezes, mais que a solidão do isolamento desejado ou indesejadamente sentido.
Estar só é interior. Estado de espírito. Condição momentânea do viver.
No transporte público que abarrota de rostos e correrias matinais de afazeres laborais, no centro comercial que emerge de mãos do poder consumista, no evento mas afamado e participado... em todo e qualquer lugar cheio, pode, está-se, muitas ocasiões somente só!
Na solidão que procuramos, na que queremos, na que rejeitamos, na que vivemos e na que sentimos.
Na solidão que balança, que vai na aurora da manhã e regressa  ao pôr-do-sol, como uma dança e naquela que vem, agarra, perdura e fica...
Na solidão dos braços que se foram, das angústias desabafadas mas desamparadas pelo carinho rasgado.
Na solidão que não dás para não receber. Na que recebes sem nunca dar e na do dar sem querer e mesmo assim, continuar a receber.
Tão só na janela de um quarto apagado e embalado pelo burburinho da rua. Tão só no meio da agitaçã da vida. Tão só num mundo louco, corrido e ocupado.
Tão acompanhados estamos e tão sós nos sentimos quando conseguimos. Tão sós no meio de uma multidão e apaixonados onde tudo pára e se respira a solidão de duas respirações. tão sós no eu que busca recantos de vida parado na berma de um rio que nos leva as memórias molhadas no rosto. Tão sós de felicidade, de contemplação a Ele num banco qualquer da Sua casa, olhos nos olhos no diálogo do silêncio. Tão sós na mensagem que vem e no telefonema que vai. Tão sós no sorriso rasgado e na imagem de alegria escancarada. Tão sós quando queremos e ousamos simplesmente ser companhia, ser vida!

sábado, 1 de março de 2014

Vem...

Vem sussurrante e de mansinho.
Vem e traz o que ele despedaçou.
Traz o aconchego de um beijo mais audaz, mais felino, mais apaixonante.
Carrega a beleza dos dias que ele roubou.
Abre a janela de rompante, fazendo esquecer as portas fechadas, cada dia de todos os poucos dias dele.
Vem! Vem e dissipa. Arrasa. Faz crescer.
Pinta de cor-de-rosa o cinzento triste e apagado que ele esboçou.
Renasce-me os dias. Renasce-me a alegria de ter. Reaproxima.
Tu. Traz também a leveza das flores que nascem, a frescura dos odores primaveris e a beleza do sol e coloca-os no caminho que ele trilhou de obscuridade de acções.
Entra de rompante e sê a nova marca e o novo rosto, recolorindo a pintura que ele forjou e voltou a forjar.
Traz o sol à chuva que ele trouxe. Traz o sorriso e corrompe as lágrimas que ele plantou.
Sê a paz para a  revolta agitada que ele criou.
Tão pequeno, tão demoníaco, tão cruel.
Em ti, tenho a esperança do renascer. Do avançar e da luz que brilha lá ao fundo do túnel, para se espelhar nos nossos sorrisos.
Tu. Tu és a âncora a que me agarro e porque suplico desde o meio dele.
Tu que és a simbologia da chegada, sê a simbologia do reencontro e do fim das trevas.
Tu, que tanto trazes para alegrar, todos os anos, traz mais um bocadinho, porque ele doeu demais. Porque ele também trouxe uma crueldade tamanha, quase impossível de suportar. Quase tão impossível de curar. Porque ele fez doer tanto e as minhas esperanças sempre estiveram postas em ti.
Vem Março e faz esquecer o que Fevereiro roubou.